Julho 2021, podcast “O Corpo como Via de Autoconhecimento

Susana Belo convidou-me para um Podcast de desenvolvimento pessoal “O Corpo como Via de Autoconhecimento”.

A Susana Belo, terapeuta transpessoal, yoga e meditação, ligada a Yoga Life enquadrou o podcast para “O caminho para a felicidade” (www.viver.pt)

Orientou as perguntas ao longo de uma hora. A nossa conversa encaminhou-se para os temas da Psicoterapia Corporal e do Yoga.

Caso quiserem ouvir, podem ligar para o seguinte link:

 
Poscast
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October 30, 2021 · 8:45 pm

Lançamento do livro: I Shin Den Shin, Da Minha Alma à Tua Alma

O livro retrata os vários domínios pelos quais se interessou no seu percurso de vida.

Não se esquecem se se inscrever antecipadamente.

Obrigada

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Firmeza e Suavidade

Firmeza e suavidade parecem postos um ao lado do outro, antagónicos. No entanto, estes aspectos formam um só e mesmo conjunto. Não os podemos separar: em união permitem-nos de nos unificar e de nos conduzir para uma forma de bem-estar, o que se chama atualmente um estado de plena consciência. Uma ponte entre a psicoterapia e o yoga.

Pensar que o yoga é unicamente um controlo do seu corpo é enganador, o corpo é certamente espantoso dominando-o com muitas posturas e uma grande perfeição corporal. Entretanto se o corpo não está habitado, ariscamo-nos a esquecer o principal e de colocar o corpo acima de tudo, sem beleza. Seguir este percurso é na realidade uma via de estacionamento. Praticar o Yoga unicamente ao nível corporal seria reduzir o entendimento da filosofia de vida que é o yoga.

Trata-se mais de um percurso de ligação, em busca de unir o corpo, a consciência e a mente. A experiência da prática do yoga segundo essa interpretação, pode-nos guiar diretamente no nosso cotidiano, além da prática das posturas.

Segundo a tradição milenar das Yoga-sutra de Patanjali, o Y.S. I. 46 em sânscrito «Sthira sukham asanam» significa: a «asana» (postura) pratica-se com firmeza e suavidade. Este « sutra » (aforismo) faz parte do pilar «asana» dos oitos «asthanga» (pilar) de Patanjali.

A firmeza reflete a importância de ter uma atitude determinada face à postura que se deve estável, certa e permanente. Ao nível do corpo, o oposto da firmeza é a agitação. A firmeza focaliza a atenção para a imobilidade da postura. Face à vida cotidiana, essa permanência conduz para a procura da estabilidade, certeza e finalmente de ir ao essencial.

Conjuntamente a suavidade na postura conduz à sua delicadeza e leveza. Assim o lado subtil da postura está no centro da concentração. Não é nem lassidão nem letargia. Na vida comum, a delicadeza permite saber se adaptar às adversidades, de ir ao encontro do prazer e de aceitar os seus limites.

Quando a estabilidade excessiva da postura fica imóvel, tal um muro rígido, observamos frequentemente uma real dificuldade de adaptação às novas circunstâncias. Contudo a essência da vida traz-nos perpétuos obstáculos e surpresas. É importante desenvolver uma aptitude em adaptar-se às impermanências e largar essa comodidade inflexível.

O exemplo do Covid19 e nosso confinamento desvenda quanto nós devemos adaptar às transformações e aos imprevistos. É importante nesse caso preciso, devido às contaminações possíveis e ao respeito pelas medidas da saúde pública, e para o bem-estar coletivo, ficar maleáveis.

Vigiar, contudo, em não cair no excesso da delicadeza, estando demais na subtileza ou excessiva contemplação dela mesmo, seria cair na apatia e no não agir. Este caminho afasta-nos nesse caso da realização de si e nos dirige para a via da insatisfação, talvez mesmo na ociosidade e no tédio que nos fazem recuar.

Subtis na sua ligação, firmeza e suavidade completam-se uma a outra. Este espaço de negociação abre-nos uma via da disponibilidade, de prazer e bem-estar em si mesmo.

Este desenvolvimento pessoal está na disposição de todos. Atingir este estado de consciência é um objectivo procurado por todos e geralmente o propósito da psicoterapia.

Em psicoterapia, uma vez identificada a origem do problema, é importante de bem viver o nosso estado e a nossa condição. Durante a intervenção terapêutica, o desafio é de transformar pensamentos, crenças e por vezes mesmo esquemas de raciocínios. Tal como na tradição do yoga, convém analisar, estudar e sobretudo viver esse equilíbrio entre estabilidade subtil e suavidade firme na sua vida cotidiana. Esse procedimento é um dos meios para nos ajudar sempre que estamos em sofrimento para o ultrapassar e assim aceder ao bem-estar.

Sobre o Espinoza, Frédéric Lenoir escreve no seu livro « Le miracle Spinoza » que a alegria permite aumentar o nosso poder em agir e, no entanto, que a tristeza a diminuía. Existe liberdade de escolha entre o desejo de tristeza e de alegria. Assim a ética espinosiana consiste em passar da impotência ao poder e da tristeza a alegria.

O ser humano tem uma grande capacidade de mudar a partir do momento em que toma consciência do seu destino. Deste modo é dado a todos e a cada instante de cultivar essa escolha «estar feliz».

Encontrar esse equilíbrio entre firmeza e suavidade em ligação está na origem de se unificar e desenvolver maior felicidade interior.

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Fermeté et Délicatesse

Fermeté et délicatesse, mises côte à côte, semblent antagoniques. Cependant ces aspects forment un seul et un même ensemble. Nous ne pouvons les séparer : à l’unisson, ils permettent de nous unifier et de nous conduire vers une forme de bien-être, ce que l’on appelle couramment aujourd’hui un état de pleine conscience. Un pont entre la Psychothérapie clinique et le Yoga.

 

Penser que le Yoga est uniquement un contrôle de son corps est bien trompeur. Le corps est certainement superbe en le dominant dans beaucoup de postures avec une grande perfection corporelle. Toutefois si le corps n’est pas habité, nous risquons d’oublier le principal et de mettre le corps au-dessus de tout, sans beauté. Suivre ce parcours est en réalité une voie de stationnement. Pratiquer le Yoga uniquement au niveau corporel, serai réduire la compréhension de cette philosophie de vie qu’est le yoga.

Il s’agit d’un parcours beaucoup plus de liaison, en veillant à unir le corps, la conscience et le mental. L’expérience pratique du Yoga, selon cette interprétation, peut nous guider directement dans notre quotidien, au-delà de la pratique des postures.

Selon la tradition millénaire des Yoga Sutra de Patanjali, le Y.S.II.46 «Sthira sukham asanam», signifie : l’«asana» (posture) se pratique avec fermeté et délicatesse. Ce « sutra » (aphorisme) fait partie du pilier «asana» d’un des huit «asthanga» (pilier) de Patanjali.

La fermeté reflète l’importance d’avoir une attitude déterminée face à la posture qui elle se doit d’être stable, assurée et permanente. Au niveau du corps, l’opposé de fermeté est agitation. La fermeté focalise l’attention vers l’immobilité dans la posture. Face à la vie quotidienne, cette permanence nous conduit vers une recherche de la stabilité, de l’assurance et finalement d’aller vers l’essentiel.

Conjointement, la délicatesse dans la posture nous renvoie à sa finesse, sa légèreté. Ainsi, le côté subtil de la posture est au centre de la concentration. Ce n’est ni du relâchement ni de la léthargie. Dans la vie courante, la délicatesse permet de savoir s’adapter aux adversités, d’aller à la recherche du plaisir et d’accepter ses limites.

Lorsque la stabilité excessive de la posture devient immobilité, tel un mur rigide, nous observons souvent une réelle difficulté d’adaptation à de nouvelles circonstances. Pourtant l’essence de la vie nous apporte perpétuellement des obstacles et des surprises: il est important de développer une aptitude à s’adapter aux impermanences et de lâcher prise de cette commodité inflexible.

L’exemple du Covid19 et notre confinement dévoile combien nous devons nous adapter aux transformations et aux imprévues. Dans ce cas précis, dues aux contaminations possibles et au respect de mesures de santé publique, et pour le bien-être collectif, nous avons dû rester malléables.

Gare toutefois à ne pas tomber dans l’excès de délicatesse, étant trop à l’écoute de cette subtilité ou excessivement dans la contemplation d’elle-même, serait tomber dans l’apathie et ne plus agir. Ce chemin nous éloigne alors de la réalisation de soi et nous dirige vers la voie de l’insatisfaction, peut-être même de l’oisiveté ou de l’ennui qui nous font reculer.

Subtiles dans cette liaison, fermeté et délicatesse se complètent l’une à l’autre. Cet espace de négociation nous ouvre une voie de disponibilité, de plaisir et de bien-être en soi-même.

Ce développement personnel est à disposition de tous. Atteindre cet état de conscience est un objectif recherché par nous tous et il est souvent le dessein de la psychothérapie.

En psychothérapie, une fois identifiée la source du problème, il est important de bien vivre notre état et notre condition. Au cours de l’intervention thérapeutique, le défi est de transformer pensées, croyances et parfois même nos schémas de raisonnements. Tout comme pour la tradition du Yoga, il convient d’analyser, d’étudier et surtout de vivre cette expérience d’équilibre entre stabilité subtile et délicatesse ferme dans la vie courante. Ce procédé est un des moyens pour nous aider, lorsque nous sommes en souffrance, pour la dépasser et ainsi d’accéder à plus de bien-être.

A propos de Spinoza, Frédéric Lenoir reconnait dans son livre « Le miracle Spinoza » que la joie permet d’augmenter notre puissance d’agir et cependant pour la tristesse de la diminuer. Il existe la liberté de choix entre le désir de tristesse ou le désir de joie. Ainsi, l’éthique spinozienne consiste à passer de l’impuissance à la puissance, de la tristesse à la joie.

L’être humain a une grande capacité de changer dès le moment où il prend conscience de sa destinée. Il est ainsi donné à tous et à chaque instant de cultiver ce choix « d’être heureux ».

Trouver cet équilibre entre fermeté et délicatesse à l’unisson est une source pour s’unifier et de développer davantage son bonheur intérieur.

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Aula de Yoga por vídeo conferência

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“A vida é um caminho de sombras e luzes. O importante é que se saiba vitalizar as sombras e aproveitar as luzes.” Bergson Henri

Neste momento difícil, mais do que nunca é importante aproveitar esse confinamento no sentido de se recolher efectivamente. A maioria das pessoas trabalham de casa tornando-se complicado usufruir desta circunstância.

Aulas de Yoga em vídeo conferência é uma oportunidade fantástica de poderem beneficiar da calma e tranquilidade da casa.

Convido todos a terem aulas de Yoga online com o seguinte horário (portugal):

– Às 2ªf, 4ºf e 6ªf às 8h30

– Às 3ªf e 5ªf às 19h.

Caso seja a primeira aula comigo, agradeço que me contacta antecipadamente para organizar uma primeira aula individual.

Vamos conseguir aquilo que era impossível há apenas um mês.

Agradeço a todos os que mantém o entusiasmo e motivação.

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Cours de Yoga par vidéo conférence

“L’espoir, au contraire de ce que l’on croit, équivaut à la résignation. Et vivre, c’est ne pas se résigner » Henri Bergson»

Plus que jamais, il est important d’exploiter ce confinement pour se recueillir vraiment. Beaucoup d’entre nous travaillons depuis la maison et une question se pose: comment grandir de cette circonstance?

Des cours de Yoga par vidéo conférence sont une opportunité fantastique pour créer un espace de calme et de tranquillité à la maison.

Je vous invite à avoir un cours de yoga online avec les suivants horaires  (portugaises):

– Lundi, mercredi et vendredi à 8h30

– Mardi et jeudi à 19h.

Pour votre premier cours avec moi, je vous prie de me contacter afin d’organiser une première séance individuelle pour se connaitre.

Merci à tous ceux qui maintiennent leur enthousiasme et leur motivation. Nous allons arriver à rendre possible ce qui était impossible il y a à peine un mois.

 

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Aulas de Yoga

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December 3, 2019 · 10:17 am

Harcèlement en milieu scolaire : une intervention psychologique (article du GPE)

Comme expliqué dans le Journal (GPE, Décembre 2015), le « Point écoute » du Lycée Français a comme mission d’aider les élèves de 6ème à la Terminale à s’orienter vers un meilleur bien-être. Cet espace est approprié à l’écoute active afin de parler, mieux se comprendre et discerner chaque situation pour une solution adaptée. De nombreux élèves utilisent aujourd’hui cet espace d’écoute où je garantie un cadre de confidentialité et d’éthique professionnelle.

Mon intervention au Lycée, en tant que psychologue clinique et psychothérapeute, est aussi de dimension préventive. Dans le courant de 2015 et 2016, j’ai pu travailler la question du harcèlement en passant de classe en classe de la 6ème à la Seconde. J’ai été accompagnée à plusieurs reprises par un membre du GPE (Groupe de Parents d’Elèves) Juge de profession au tribunal de Lisbonne, Ana Paula Barbosa,  qui a transmis son expérience sur cette question délicate. Je remercie fortement ce type de collaboration qui donne une expérience vivante pour les élèves. A ce sujet, je suis intervenue exceptionnellement en classe de Primaire (CE2 à toutes les CM2) en adaptant mon action aux âges auxquels je m’adressais.

Le harcèlement en milieu scolaire est défini et priorisé par le Ministère de l’Education nationale (France). En psychologie, ce sujet est fondamental et constitue un de mes objectifs au Lycée Français. Je poursuis cet objectif en collaboration avec le corps des enseignants eux-mêmes préoccupés par ce fléau.

Les élèves sont en effet confrontés à cette problématique non seulement en tant que victime mais aussi comme harceleur, ou trop souvent en tant que témoin. La recherche sur le sujet a énormément évolué ces dernières années. Il est très important que les enfants apprennent à détecter ce genre de situations pour rapidement mettre en place des stratégies qui conduisent à des solutions efficaces plutôt qu’à les détériorer, comme par exemple lorsque le harcelé(e) s’isole.

Lors de mon passage dans les classes, le thème du harcèlement a eu beaucoup d’impact et d’intérêt auprès des élèves, en secondaire comme en primaire, et a suscité de nombreuses questions et dialogues pertinents.

D’autres sujets ont été développé en 2016 comme le thème de l’Education à la Vie Affective et Sexuelle, Une introduction au service de psychologie « Point écoute » au Lycée, et des réponses aux appels spécifiques des professeurs lors de situations critiques.

La réception de tous les élèves a été excellente et mon bilan est positif pour tous les thèmes qui ont été déployés. Je constate avec satisfaction que les élèves sont toujours réceptifs et disponibles à toute intervention psychologique. Il reste évidemment encore beaucoup de travail à faire et votre collaboration sera toujours bienvenue.

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Adolescência a idade ingrata ou idade excepcional?

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Adolescere: em latim significa crescer. Efectivamente, a adolescência é uma etapa de crescimento que se caracteriza pela fase de transição da infância para a vida adulta.

Os limites cronológicos da adolescência são definidos entre 10 e 19 anos pela Organização Mundial da Saúde (OMS). No entanto, a idade da adolescência varia individualmente e culturalmente.

Ao nível fisiológico, as grandes mudanças são as transformações dos órgãos sexuais que se desenvolvem na puberdade. A duração deste período depende de raparigas para rapazes sendo que na rapariga depois da primeira menstruação, aparece um abrandamento significativo do seu crescimento, e pelo contrário, no rapaz depois da primeira emissão de esperma, ocorre ainda um crescimento que dura cerca de 3 anos.

Em Portugal, a idade de puberdade é considerada, para rapazes entre 10 e 13 anos e para as raparigas entre 11 e 14 anos.

Recentemente, no livro “La reproduction animale et humaine” (2014), Nicolas Roux escreve no capítulo sobre a evolução da idade da puberdade nas raparigas que baixou dos 17 anos na metade do seculo XIX para 13 anos na metade do seculo XX, sendo o indicador a data da primeira menstruação.

O estudo de “Sorensen e al” (2012) também mostra que existe uma diminuição progressiva da idade da puberdade nas raparigas ao ritmo de 2,5 a 4 meses por ano ao longo dos últimos 25 anos. Tudo indica que também sucede uma alteração da idade da puberdade ao longo dos seculos sobretudo evidenciado nas raparigas.

Do ponto de vista da psicologia do desenvolvimento, o início da adolescência é definido pela maturidade sexual. O fim é caracterizado, não pelas mudanças de ordem fisiológica, mas pelas de ordem sociocultural, isto é, pela entrada no mercado de trabalho e pelo assumir de funções sociais de adulto, como por exemplo, poder formar uma família. Por esta razão, por vezes já se considera que a adolescência pode ir até aos 25 anos…

Desta forma, o estabelecimento de uma idade para a adolescência torna-se variável devido às diferenças individuais, culturais e temporais.

O termo “adolescência” é utilizado no contexto científico em relação ao processo de desenvolvimento bio-psico e social. A dificuldade da definição do conceito é agravado pela existência de preconceitos entre “a idade das asneiras e a idade perfeita” sem esquecer que, muitas vezes, também lhe surge associada a ideia de vandalismo, delinquência, droga, entre outros.

A adolescência é um período da vida humana determinado pela profunda transformação fisiológica, psicológica, intelectual e socio-moral.

As transformações fisiológicas são da responsabilidade do sistema endócrino que controla as hormonas emitidas pelas glândulas sexuais. Nas raparigas, as hormonas principais são o estrogénio e a progesterona, e nos rapazes a testosterona. As mudanças corporais dão-se, não só a nível dos órgãos genitais, como também ao nível anátomo-fisiológico.

Verifica-se também um crescimento acentuado dos ossos da mão e dos pés, e um aumento do coração e dos pulmões. Em geral, os membros superiores e inferiores e a cabeça aumentam mais rapidamente do que o tronco. Estes diferentes ritmos de desenvolvimento trazem uma desigualdade por vezes observável nos movimentos desajeitados dos jovens.

Estas enormes alterações anátomo-fisiológicas influenciam significativamente o adolescente ao nível psicológico, pois tem um enorme impacto na forma como o adolescente se vê. A imagem que tinha do seu corpo, enquanto criança, muda de forma relativamente rápida. O adolescente procura então perceber-se e aceitar-se com essa nova representação física. A adolescência é deste modo um período de adaptação ao seu novo corpo e identidade.

O artigo escrito em 1993 por Bolognini, M., Plancherel B., Nunez R., Bettschart W, (Lausanne, Suisse) sobre um estudo longitudinal (1989-1991) mostra que esta passagem é também “um período de grande stress”. Refere que o adolescente está confrontado com múltiplas mudanças físicas, a escolha da orientação escolar, o desenvolvimento das novas funções, e as modificações das relações com os pais e com os amigos.

De facto, a sociedade exige ao jovem que tome muitas decisões para as quais ainda não está completamente preparado.

Acrescente-se, ainda, todo o processo complexo de desenvolvimento da sexualidade e da identidade sexual em simultâneo com a pressão para evitar comportamentos de risco que conduzam a doenças ou gravidezes indesejáveis, isto é, a exigência de uma sexualidade responsável, integrando a contracepção nas suas relações.

Relativamente à sexualidade, os adolescentes não tomam as providências necessárias por não medir corretamente os riscos e as suas consequências. Desta forma, frequentemente, não estimam adequadamente as possibilidades de engravidar, ou mesmo, de contrair doenças sexualmente transmissíveis, nem avaliam realisticamente as consequências.

Perante tantas solicitações, os adolescentes comportam-se de forma diferenciada à procura de se auto-afirmar. Por vezes, vestem-se ou falam de forma diferente, até mesmo para vivenciarem o choque com os adultos, numa tentativa de se perceberem como diferentes e enquanto seres individualizados. Isto não são mais do que tentativas para descobrirem o seu próprio espaço identitário.

Muitos dos comportamentos dos adolescentes incluem sonhar, isolar-se, escrever, pintar, tocar instrumentos, ouvir música. Todos eles contribuem para a satisfação de necessidades internas de autoconhecimento e do seu desenvolvimento emocional.

As transformações também se dão ao nível intelectual. Desenvolve-se o pensamento formal que corresponde ao aprender e relacionar conceitos abstractos e que passa por interrogar, desenvolver o raciocínio hipotético dedutivo, argumentar e criticar. Todas estas capacidades cognitivas de abstração permitem alargar as perspectivas do adolescente, como o aprender a reflectir antes de agir, exprimir argumentos para lutar pelas suas ideias e saber discuti-las. O adolescente procura uma exigência de coerência nas discussões, no questionamento dos problemas, sabendo distanciar-se relativamente aos conflitos emocionais e tentando abstrair-se deles. O jovem defende uma filosofia de vida que lhe seja importante para a formação dos ideais pessoais. Tudo isto para ter um melhor entendimento de si próprio e do mundo que o rodeia.

Esta competência intelectual leva o adolescente a interessar-se por problemas éticos, ideológicos e sociais. Neste sentido, efectua também uma mudança a nível socio-moral. Defende as suas ideias e opta pelos seus valores sociais próprios. Lealdade, coerência, justiça social, liberdade e autenticidade são alguns dos valores defendidos. Quando o adolescente se apercebe de que a sociedade não está em conformidade com os valores que defende, revolta-se e opta facilmente por uma atitude muito radical, manifestando-se de várias maneiras. Procura quase sempre uma perfeição moral da sociedade e dele próprio.

Todas estas alterações, tanto psicológicas como intelectuais e socio-morais, trazem ferramentas para enfrentar os desafios da vida adulta. No entanto, a adolescência não é um período fácil. Os sentimentos são frequentemente muito fortes, novos e problemáticos. Os adolescentes vivem com estas novas pulsões, que por vezes são tão fortes, que os levam a ter comportamentos radicais.

A grande pergunta nesta fase é: “Mas quem sou eu?”

A esta dúvida junta-se, por vezes, a dificuldade do adolescente encontrar a sua identidade ao nível da sua orientação sexual. A orientação sexual reporta-se à atração para o sexo oposto, o mesmo sexo ou para ambos os sexos. A dúvida de orientação ocorre por encontrar dificuldade em gerir as suas pulsões e a sua identidade. Por vezes, as várias experiências têm apenas como objectivo a descoberta de si e do outro. As experiências homossexuais e/ou heterossexuais não definem, por si só, a orientação sexual, pois podem fazer parte da exploração do processo de identidade e orientação, podendo ser temporárias.

Se essa mesma pergunta for vivida intensamente, pode ainda criar um mau estar geral e um vazio tão grande que os adolescentes passam por uma fase de depressão podendo mesmo pensar no suicídio. Felizmente estas sensações difíceis também podem ser efêmeras. No entanto, convém estar atento aos sinais de mal-estar prolongado e examiná-los com o devido cuidado.

O período da adolescência é um período que deveria ser alvo de maior atenção e cuidado por parte das escolas e das instituições de saúde pública.

Por outro lado, convém não esquecer que o desenvolvimento intelectual do adolescente se pode destacar da normalidade.

Muitos dos grandes ideais da humanidade vieram dos jovens. Temos que agradecer aos adolescentes as suas atitudes que permitem e contribuem para a evolução da sociedade. São os jovens que empurram as pessoas mais velhas e mais resistentes à mudança.

Embora a adolescência seja considerada uma fase ingrata, é na realidade uma fase em que os adolescentes investem e impulsionam as sociedades. É uma idade extraordinária.

Obrigada adolescência.

 

“Toda a gente é uma estrela e tem o direito de brilhar.” – Marilyn Monroe

 

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September 13, 2015 · 5:54 pm

Adolescência

Será o tema do Psicologicamente Falando desta terça-feira 23 de Junho.

Há assuntos do quotidiano que nos desgastam, quer física quer psicologicamente. Um deles pode ser o modo como encaramos essa fase tão especial e complicada que dá pelo nome de adolescência. Todos por lá passámos. Mas agora, que é a vez dos nossos filhos, cabe-nos a nós tentar entender as suas razões, formas de pensar e agir para assim melhor os podermos compreender e com eles melhor podermos conviver. Será essa a prioridade desta sessão de “PSICOLOGICAMENTE FALANDO” com a psicóloga Magali Stobbaerts, que assim irá tentar ajudar a que melhor possamos evoluir em harmonia uns com os outros, mais novos e mais velhos.

 

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June 22, 2015 · 11:49 pm